Foco na Família


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A celebração dos nove anos de Pontificado do Papa Francisco nos leva a pensar no legado simples, concreto e direto sobre as relações humanas e a prática de nosso amor Deus.



Entre esses temas, destaca-se muito especialmente a família tal como é e sua importância para a sociedade. Sem propor um modelo perfeito, anima os seres humanos a se amarem, fortalecendo vínculos, no dia a dia, sem teorias complicadas ou impossíveis de levar adiante, mas dentro da capacidade humana de estar sempre recomeçando, pedindo perdão e crescendo juntos.

Nesse sentido, entre documentos pontifícios e cartas sobre o tema, destacamos a Exortação Apostólica Pós Sinodal Amoris Laetitia e a carta aos esposos por ocasião do ano da Família, no final de 2021, que traz também luzes a partir da experiência pandêmica e seu impacto nas famílias. Esses escritos possuem um profundo cunho antropológico, sendo úteis e eficazes para todas as famílias, e, não somente para aquelas que compartilham com o Papa a fé.

Desde a Secretaria Nacional da Família, temos também trabalhado com o fortalecimento de vínculos familiares – escopo exclusivo das políticas públicas familiares – através de uma metodologia importada do Reino Unido – Familias Fortes -, que trata, entre outros temas, da comunicação na família, de ajudar e ser ajudado, do stress, dos limites, das regras, etc. Temas que descem ao âmago das relações humanas, para elevar sua qualidade, também como prevenção de comportamentos de risco e caminho para um efetivo e estável desenvolvimento econômico e social.  

Por outro lado, estamos nos unindo a outros tantos países que têm implementado políticas públicas familiares, visando principalmente, mais do que um work-life balance, um work-family balance, que auxilie a equilibrar o ser humano, pois não há qualidade de vida sem um bom nível relacional.

De fato, o que podemos comprovar entre sociologia, antropologia, ciência política, políticas públicas e o enfoque teológico do Papa Francisco, é que os valores cristãos são antes de tudo humanos, e que, é preciso ser muito humano para poder entendê-los, vive-los e transmiti-los.

Dessa forma, encontramos em seus escritos, lições de parentalidade; o cuidado da casa, até mesmo ludicamente, citando a festa de Babette; sugestões para enfrentar as crises familiares e para o fortalecimento de vínculos, sem deixar de levar em conta a cultura de cada país; um foco especial na vulnerabilidade, especialmente com relação às pessoas com deficiência e os mais pobres, bem como à atenção aos idosos; um olhar especial para a  bioética quando fala sobre o acolhimento da vida no lar, e, tantos outros aspectos que envolvem também questões sociais.

O que desejo acentuar neste breve artigo é que o Papa, desde sua esfera de vice Cristo na terra, destaca como porta-voz da natureza humana diante do Pai, o que, de fato buscamos como o melhor para cada pessoa: amar e ser amado e respeitado, a começar por nossa comunidade primária – a família – e assim crescer seguro e abrir-se ao mundo – esta obra inacabada de Deus, como afirmava São João Paulo II -, contribuindo com o nosso melhor. 

Nesse sentido, o Santo Padre convoca os leigos para cumprirem essencialmente o seu papel, realizando sua tarefa no plano temporal à luz teológica do “Deus Caritas est” aplicada à célula mater da sociedade, o que torna ainda mais fecundo o seu trabalho e ensinamentos, animando a enfrentar com esperança e otimismo, o que hoje denominamos cientificamente no âmbito da Antropologia Filosófica, de “crise de amor”, pela perda da dimensão da alteridade.  

Por fim, o panorama que nos abre o Papa na Fratelli Tutti, também nos ensina a trabalhar esses temas no lar, na sociedade, e no âmbito político, de forma plural, respeitosa e fraterna, própria de quem compartilha uma mesma natureza, porém com a dignidade de sua individualidade, por ser “único” diante de Deus.

Terminamos agradecendo o Papa que temos, e pedindo por seus assessores de forma que possa estar muito bem informado sobre o que de fato ocorre em cada país, para acompanhá-lo de perto e eficazmente, na proporção dos óbvios e palpáveis desejos de seu coração.

Aproveito ainda para agradecer seu recente gesto – entre outros tão frequentes – em telefonar para nosso Presidente por ocasião da morte de sua mãe, demonstrando também sua profunda compreensão sobre a dimensão dos laços familiares. De fato, um Papa muito divino e muito humano.


Por Angela Vidal Gandra da Silva Martins. Ph-D Filosofia do Direito Secretária Nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Ou Membro da Academia Latinoamericana de Líderes Católicos