Desafio dos jovens


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Durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco fez um apelo diante dos milhões de pessoas reunidas na praia de Copacabana: “Queridos jovens: se queremos que nossa vida tenha realmente sentido e plenitude, digo a cada um e a cada uma de vocês: “bote fé” e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; “bote esperança” e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; “bote amor” e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. “Bote fé, bote esperança, bote amor”! O Papa, através desse apelo, provocava a juventude a “simplesmente” viver o que a Igreja pede a todos os seus membros desde sempre: as virtudes teologais.



Chamam-se “teologais” porque têm o seu fundamento em Deus, referem-se imediatamente a Deus e são para nós o caminho pelo qual atingimos Deus diretamente. Também a fé, a esperança e a caridade são forças autênticas, concedidas sem dúvida por Deus, que o ser humano pode desenvolver e aperfeiçoar, com Sua graça, para obter “Vida em abundância”. Tomar consciência e buscar viver os ensinamentos da Igreja é um desafio para todo cristão, sobretudo para o jovem. No entanto, a Igreja, como “mãe e mestra da verdade” dá a direção e o sentido para que todos vivam a verdade na liberdade de filhos. O YOUCAT – Catecismo Jovem da Igreja Católica – é, sem dúvida, uma grande ferramenta, um guia para orientar aqueles que desejam dar sentido a sua vida, tendo como alicerces a Fé, a Esperança e o Amor.

Nesse caminho desafiador e, muitas vezes, tortuoso e difícil, o jovem tem uma bússola para nortear seus passos: a Fé. Ela consiste em uma relação de confiança com Deus, com o coração e com a inteligência, com todas as forças emocionais. A fé se manifesta quando nos dispomos à existência e à manifestação de Deus, ou seja, a partir do momento que o ser humano se abre e coloca sua vida nas mãos do Senhor, a fé se expande e torna possível a percepção de Suas obras nesse itinerário pessoal. É, também, a partir da fé que se passa a entender, como nos explica a máxima de Santo Anselmo: “Credo ut Intellegam” – creio para entender.

Cabe também a esse “peregrino da existência” em direção a Deus, pedir ao próprio Deus que aumente essa fé, uma vez que é Ele o provedor de todas as virtudes. A partir dessa fé que dilata o coração e faz com que o homem saia de si mesmo, é possível produzir frutos, isto é, obras que ratificam essa confiança em Deus. Passa-se, a partir daí, a viver a vida em Deus, orientada para o bem proveniente dos valores do Evangelho. “Em verdade vos digo: Quem crê em Mim fará as obras que Eu faço”. Santa Teresa de Calcutá falou sobre essa relação de confiança: “Como é fácil conquistar Deus! Damo-nos a Deus, Ele passa a pertencer-nos e já não pertencemos a mais ninguém a não ser Deus. Pois quando nos entregamos a Deus sem condições ficamos a pertence-Lo, como Ele Se pertence a Si próprio. Isso significa que passamos a viver a Sua própria vida”.

Acompanhada da Fé está a Esperança, a força com que queremos e podemos realizar o objetivo pelo qual estamos na Terra: louvar e servir Deus. Ela aponta para a nossa verdadeira felicidade: encontrar em Deus a nossa realização. Por ela sabemos que nossa morada está definitiva em Deus. “Esperar significa crer na aventura do amor, ter confiança nas pessoas, dar o salto no incerto e abandonar-se a Deus totalmente”.  Portanto, a virtude teologal da Esperança, não se trata de esperar por qualquer coisa terrena, ainda que seja boa, por exemplo um emprego, êxito nos estudos, uma viagem tranquila etc.

A virtude da Esperança transcende o terreno e nos faz crer nas promessas de Deus manifestas através de Seu imenso amor pelos homens. O Céu, a Eternidade, “a vida que há de vir” é a grande promessa do Senhor para Seus filhos e é pela Esperança que cremos nela, Cristo é a nossa esperança. Embora a juventude seja uma fase de dúvidas, tropeços e, muitas vezes, escolhas erradas, é o momento em que a segunda virtude teologal encontra o terreno mais fértil. A esperança encoraja a vencer as adversidades, pois entende-se, por ela, que o melhor virá, como disse Santo Agostinho: “Ainda singramos o mar, mas já lançamos em terra a âncora da esperança”.

Por fim, a maior e mais desafiadora virtude: o Amor, também denominado Caridade, justamente para distingui-lo do “amor” mundano, que nada tem a ver com virtude. Nos diz o Apóstolo que “a caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Por tudo isso ela é a mais importante das virtudes e sem a qual, nada valeria. O jovem é chamado a esse amor de maneira que gaste seu tempo com o outro, que olhe para fora de si e rejeitar os meios de distração que os levem a absolutizar o tempo livre, no qual é possível utilizar, sem limites, aqueles dispositivos que os proporcionam divertimento e prazer efêmero. Este é o maior e mais nobre desafio: buscar obter “…um espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade quanto a tarefa evangelizadora, para que todo instante seja expressão do amor doado sob o olhar do Senhor”.

É com o amor que o jovem pode transformar a realidade ao seu redor, buscar espalhar, em todos os cantos, a mensagem libertadora do Evangelho.

Em última análise, viver segundo as virtudes teologais é procurar a santidade. Ao jovem, não se pode esconder a possibilidade real desse extraordinário caminho. A ele se deve apresentar a figura de Cristo “de modo atraente e eficaz”. E isso é possível em nosso tempo de tantos desafios, apesar de nossos limites. Papa Francisco, tratando da questão da santidade no mundo contemporâneo exorta: “Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida existe apenas uma tristeza: a de não ser santo”.

A Igreja, olhando com esperança e alegria seus jovens, conta com seu entusiasmo, criatividade e audácia para anunciar a Jesus Cristo. O maior desafio é, certamente, aquele de deixar-se transformar por Aquele que, vencendo a morte, tornou-se nossa Paz e a transmitir essa mesma mensagem com a coragem e convicção do apóstolo Paulo: “Já não sou em quem vive, é Cristo que vive em mim”.


Por Maurício Pimenta de Figueiredo Neto. Membro da Academia de Líderes Católicos Brasil